Isso sim é exemplo, nessas eleições, de JUVENTUDE comprometida, ousada, e em sintonia com as verdadeiras faces do nosso Brasil!!! :)
NETINHO QUER SER A VOZ DA PERIFERIA NA CÂMARA DE SÃO PAULO
José de Paula Neto contrariou as estatísticas. Nasceu no Parque do Ipê, bairro pobre da periferia de São Paulo. Menino negro, filho de um gráfico e uma dona de casa, após a morte da mãe foi vender doces na estação de trem de Carapicuíba, região metropolitana da capital paulista. Como tantos meninos dos subúrbios relegados pela sociedade, poderia ter ingressado na criminalidade ou engrossado os índices de jovens mortos pelo tráfico ou pela polícia. Agora, aos 38 anos, Netinho quer ser vereador.
“Sou o mais velho de três irmãos, meus pais eram de origem humilde e estudos limitados”, conta. Perdeu sua mãe aos 12 anos, em seus braços, vítima de ataque cardíaco. Então, voltou a viver no Parque Ipê com seus avós. “Foi ali que comecei a entender a realidade em que vivia e o futuro que me aguardava. E não tinha mais minha mãe para me proteger”, lembra. Foi nessa época que passou a ser assistido pela Casa da Juventude, que trabalhava com projetos culturais voltados para crianças carentes. “Ali tive mais contato com a música e fiz a minha turminha”, explica.
Ele lembra que naquele momento, começo dos anos 80, era comum se reproduzir nas periferias brasileiras um pouco da cultura das gangues dos Estados Unidos. “Era como uma moda praticar pequenos delitos e enquanto muita gente estava seguindo esse caminho, eu estava aprendendo música”.
Netinho se casou pela primeira vez aos 15 anos. “Na periferia, quando não se tem uma família estruturada, o que a gente mais quer é montar uma diferente”. De volta a Carapicuíba, em 1986, encontrou os amigos que formavam o grupo de pagode Negritude Jr. “Gravamos nosso primeiro disco em 1991 e em 1992, veio o sucesso”, conta. Ainda na juventude, perdeu o irmão Eduardo, assassinado por engano pela polícia.
O cantor deixou o grupo em 2000 e, após algumas breves passagens pela Globo e pelo SBT, foi para a Record, onde apresentava o programa “Domingo da Gente”, que tinha como carro-chefe o quadro “Dia de Princesa”.
Presença em Angola
O programa que Netinho fazia na rede Record era retransmitido para países de língua portuguesa, entre eles Angola. O apresentador fez sucesso no país. “Não há nacionalmente, em uma grande emissora, um negro que tenha um programa. E isso causou um impacto muito grande na comunidade angolana”, recorda. Por isso, em visita ao país em 2003, foi recebido pelo presidente José Eduardo dos Santos, com quem passou a manter relações mais estreitas. “Ele me incentivou a ter no Brasil uma concessão de televisão como forma de abrir espaço para os o negros, dando visibilidade aos seus problemas e anseios”.
A partir daí, Netinho batalhou e conseguiu recentemente uma concessão educativa em Pacajus, região metropolitana de Fortaleza. A meta é fazer da TV da Gente uma rede nacional.
Netinho conta que quando da criação do canal e sua transmissão
Voz ativa no PCdoB
Na época do Negritude nasceu a idéia de criar a ONG Casa da Gente, que hoje atende ao todo 1.500 crianças em duas unidades: Carapicuíba e Campo Limpo. Por conta do interesse em implantar o programa Segundo Tempo, Netinho teve acesso ao então comunista e ministro do Esporte, Agnelo Queiroz. Depois, estreitou seus laços com o novo titular da pasta, Orlando Silva. “Ele foi ousado e disse que eu devia fazer parte e ajudar o projeto do partido”.
Apesar de ter recebido propostas de outras legendas, decidiu entrar para as fileiras comunistas. Sua filiação aconteceu em 9 de julho de 2007. “Costumo convencer ou ser convencido e isto aconteceu no PCdoB. Percebi que ali eu não seria apenas mais um. Eu não queria ser usado por um partido. Entrei no PCdoB para ter voz ativa”, explica. Netinho conta que se identificou com as pessoas, as lutas e a história do partido. “O PCdoB é íntegro, tem objetivos claros e respeita a sociedade”.
Inserção política
Após trilhar com sucesso a vida artística, onde se destacou por dar visibilidade aos talentos e à cultura da periferia, Netinho aposta agora na carreira política. O artista tem inserção em todas as regiões da cidade, especialmente nos bairros mais afastados, com destaque para a Zona Sul, região de Santo Amaro, onde estão suas origens, e nas Cohabs, conjuntos habitacionais presentes em toda região metropolitana.
O candidato é um dos mais bem cotados para assumir uma cadeira no legislativo. Especula-se que estaria entre os primeiros colocados. Recentemente, um levantamento feito pelo partido constatou que 70% dos eleitores paulistanos conheciam Netinho. Ele quer chegar à Câmara Municipal e ser lá dentro um canal dos moradores da periferia paulistana. “Eles falam comigo, eu os entendo e eles acreditam em mim”, diz, explicando a sintonia que mantém com as regiões mais afastadas do centro.
“Temos percebido que Netinho é muito bem recebido. Nas caminhadas que faz, o povo sai de suas casas, do comércio, para falar com ele. Eles pegam os panfletos, lêem e guardam”, explica Nádia Campeão, presidente do PCdoB no estado de São Paulo. Para ela, sua candidatura é importante porque “pode dar voz a camadas extensas da população que não se sentem representadas”. Nádia diz que Netinho “dialoga com jovens, trabalhadores, movimento hip hop e é expressão das áreas populares das grandes cidades”.
Do ponto de vista político, Nádia diz que se eleito, “Netinho pode interpretar esses anseios atuando num partido comprometido com as causas populares. Esta é uma soma importante. Ele poderia ter escolhido outras siglas, mas teve uma atitude determinada de disputar uma vaga na Câmara da maior cidade do Brasil filiado ao PCdoB”.
O partido disputa o legislativo municipal
Foco na educação
Recentemente, uma conversa entre a campanha de Marta e a de Netinho tratou de como intensificar a participação do cantor nas atividades da candidata. Na ocasião, o candidato reafirmou seus compromissos com as áreas da educação e da cultura. “Ele quer abrir espaços nas políticas públicas para a turma que trabalha a cultura nas periferias e que não tem visibilidade”, explica Nádia Campeão, que atuou como secretária de Esportes durante a primeira gestão de Marta Suplicy.
Segundo Netinho, seu foco na Câmara, se eleito, será a inclusão dos jovens, o acesso ao primeiro emprego e a melhoria das escolas públicas. “Cuidar das crianças é, de fato, melhorar o Brasil. A escola precisa mudar. A tecnologia está aí e a criança precisa ter acesso a ela”, diz. “Além disso, a educação física, a cultura e a música são instrumentos de inclusão que a gente não vê sendo valorizados nas escolas públicas. Quero insistir muito neste aspecto”, enfatiza. Atualmente, constata, “não vivemos num Estado de cultura plena”. E aposta: “para a gente poder acabar com o ódio e o rancor que hoje imperam na periferia, a escola pública é o melhor caminho”.
O cantor chama atenção também para outro problema: a distribuição de renda. “Essa é uma questão grave no Brasil e o governo Lula tem tentado minimizá-la. Mas a periferia cresceu muito e de maneira desordenada”. Hoje, lamenta, “as pessoas fingem não ver a quantidade de crianças e famílias pedindo esmola ou fazendo malabarismo nas ruas de São Paulo”.
Para mudar esse cenário, Netinho aposta na renovação. “Quero ser um político de atitude e quero ser parte dessa renovação necessária na política. A periferia precisa de alguém que entenda seus problemas. Sou fruto dela, vendia doce na rua, nunca tive acesso às coisas que a maioria das famílias de classe média tem”, recorda.
De olho no Senado
Os planos de Netinho vão além dos limites da capital. Ele quer disputar o Senado em 2010. “No Congresso, gostaria de ser a visão e a voz da periferia. É engraçado que, no Senado, temos pessoas tão cultas, mas que não conseguem falar algo que o povo entenda. E a gente tem que se aproximar do povo para compreender o que está acontecendo. O político tem de pensar no coletivo”, avalia. E aposta: “quero representar o meu povo no Senado”.
Para ele, parte da distância entre população e políticos é resultado do próprio comportamento do eleitor. “Muitos pedem coisas em troca para fazer campanha e vêem no candidato a oportunidade de ganhar alguma coisa naquele momento”. Vai ser preciso, diz, “reconstruir essa relação” porque “a democracia no Brasil é uma falácia e não existe na prática. Ela ainda é para poucos”. Também neste aspecto, Netinho vê a educação como fundamental: “a escola não tem contribuído para que as pessoas entendam o que é a democracia porque não se discute o assunto nas salas de aula”.
Gestão tucana, periferia abandonada
Avaliando as gestões tucanas tanto à frente do governo do estado quanto à frente da prefeitura, continuada pelo demista Gilberto Kassab, Netinho vê um recorte de classe. A São Paulo de hoje é uma cidade que “empurrou os pobres para a periferia e os deixaram lá, desassistidos”, reclama. Entre outros problemas da metrópole, ele destaca o papel da moradia na vida das populações mais carentes. “Habitação é muito mais do que um lugar para se morar. O local onde se vive deve ser um espaço de lazer, cultura, trabalho e convivência”, explica.
“A gente tem desde meados da década de 70 um desleixo total com o plano de moradia urbana
Sobre a opção tucana pelos cortes nos gastos públicos, chamado com toda pompa de “choque de gestão”, Netinho diz que “o PSDB tem uma essência elitista e não consegue se aproximar da periferia”. Por isso, ressalta, “vejo uma grande diferença com relação às duas administrações do PT”. Netinho espera que a nova administração, que estréia em 2009, “seja participativa e consiga unir a população em prol do interesse de uma São Paulo melhor”. Da sua parte, diz, “o povo pode esperar algo que não tem sido muito comum na política, que é a transparência. Quero ser o elo de ligação entre o meu povo e a verdade”.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte
www.vermelho.org.br
