30 maio 2009

GM estatizada evidencia o fracasso do capitalismo americano

por Umberto Martins*

A General Motors, outrora o maior símbolo do poderio econômico dos EUA e agora, à beira da concordata, será estatizada. Um “acordoextraoficial” com os credores e o governo Obama, informado peladireção da empresa nesta quinta-feira (28) à Securities and ExchangeCommission (SEC, comissão reguladora da Bolsa de Valores dos EUA),prevê que o Estado assumirá 72,5% das ações da montadora, enquanto osindicato dos metalúrgicos aceitou converter a dívida trabalhista emações, ficará com 17,6%.

O governo esclareceu que se a montadora decidir buscar a proteção dalei de falências americana e receber a aprovação do tribunal defalências para a venda de praticamente todos seus ativos ao Tesouroamericano, a nova empresa apoiada pelo Tesouro americano (New GM)aceitará adquirir tais ativos.

“Governo Motors”

A nova GM já está sendo apelidado pelo povo e também pela mídia de“Governo Motors”. O fato parece traduzir uma fina ironia da história.Quem diria que Tio Sam (logo ele), principal autor da ideologianeoliberal e de um consenso (de Washington) que demonizou aintervenção do Estado na economia e transformou o mercado capitalistanum Deus pagão virtuoso e infalível, seriam constrangidos a negar aspróprias crenças e recorrer aos poderes do leviatã para salvar aquelaque já foi o símbolo de sua decadente indústria.

O governo promete injetar mais 50 bilhões de dólares para ressuscitara GM e viabilizar sua sucessora. Abandonada às próprias leis domercado, a montadora estaria condenada à morte. O colapso dos grandesbancos e principais conglomerados do outrora próspero e exuberantesistema financeiro americano tampouco seria evitado sem a intervençãoda Casa Branca.

Registre-se que o socorro bilionário não se destina a defender osinteresses dos operários e operários da empresa. O plano em cursoobjetiva uma redução substancial dos custos e preconiza o“enxugamento” do quadro de funcionários, o que significa demissões emmassa e a intensificação do deslocamento da produção para o exterior(principalmente China e México), onde a taxa de exploração da força detrabalho (refletida nos baixos salários) é infinitamente maior.

Estado capitalista

Que ninguém se iluda. Os bilhões do Tesouro americano são destinadosao capital e ao capitalismo, não visam minorar o sofrimento dasfamílias operárias. É a mesma lógica que presidiu os pacotes de 1,45trilhão de dólares baixados pelos governos Bush e Obama com opropósito de resgatar o sistema financeiro. Centenas de bilhões dedólares foram canalizados para os mesmos bancos que já desalojaram econdenaram ao olho da rua milhões de trabalhadores e trabalhadoras queperderam seus empregos com a crise, através das ociosas execuçõeshipotecárias.

Somente em abril deste ano, mais de 342 mil pessoas receberamnotificação de despejo, um crescimento de 32% em relação ao mesmo mês do ano passado. Isto continua a ocorrer apesar das promessas de Obama e dos próprios bancos, que especularam com a miséria alheia por meio dos empréstimos denominados “subprime”, de que iriam interromper as execuções. A conduta do governo no socorro ao banco e às montadoras revela o caráter de classe do Estado no capitalismo moderno e prova a mais completa subordinação do poder público aos interesses dos grandes monopólios nos EUA.

Decadência

A melancólica situação da GM, por seu turno, reflete com notávelfidelidade o parasitismo e a decadência da economia norte-americana,que prossegue de mãos dadas com o crescimento desigual das nações e o progressivo deslocamento do eixo da dinâmica da produção industrial edo poder econômico do chamado Ocidente para o Oriente.

Já não restam muitas dúvidas de que o futuro da indústria, inclusiveno ramo automobilístico, está sendo desenhado na Ásia, China, Índia eCoréia, principalmente, além (é claro) do Japão.

De todo modo, a sorte das montadoras nos EUA evidencia também oslimites do modo capitalista de organizar a produção e assinala, emparticular, o fracasso do capitalismo americano. A necessidadeobjetiva de que o Estado assuma as rédeas da economia é tão forte ecandente que, mesmo a contragosto, nem os liberais mais renitentes edogmáticos (estadunidenses e britânicos) podem hoje ignorar oucontornar. A estatização não significa necessariamente socialismo, masé sintomática da falência do capitalismo.

*Umberto Martins, Jornalista, membro da Secretaria Sindical Nacional do PCdoB.

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